Os 5 maiores mitos da neurociência

Trabalhar com neurociência na clínica é desafiador. O tema em si é complexo, mas um dos maiores desafios é desmentir dúzias de mitos da neurociência.

Quem acompanha meu trabalho sabe que um dos pilares da minha atuação é escapar de pseudociências, promovendo uma prática séria, baseada em evidências, mas ainda acolhedora e empática.

Pensando nisso, preparei este artigo, desmentindo os piores mitos da neurociência, comentando as maiores pseudociências, explicando porque são tão prejudiciais e como distinguir ciência de verdade das famosas fake news, os mitos da neurociência.

Neurolinguiça: Teorias tão erradas ou ultrapassadas que viram piada

Por que fake news se disseminam rápido e são tão difíceis de combater?

Uma das maiores dificuldades em desmentir as fake news está no fato de que as pessoas se identificam com elas. Geralmente apresentam explicações simples para dúvidas complicadas, construindo uma narrativa que ressoa com nossas crenças pessoais e vieses.

Muitas vezes nos apegamos emocionalmente a essas narrativas e ao sermos confrontados não desafiam apenas informações, mas também nossas crenças pessoais e visão de mundo.

Por exemplo, o parágrafo acima é uma simplificação enorme de um efeito social muito profundo e complexo. Como saber se é fake news ou é uma informação verdadeira?

A resposta está na pesquisa. Utilizar diversas fontes, de preferência aquelas que não compartilham nossas visões, ou recorrer a artigos revisados por pares – onde especialistas analisam as informações e emitem seu veredito. Ah, aqui você pode conferir um artigo revisado que embasa a resposta acima.

Mesmo com esse cuidado, é crucial permanecer atento a situações atípicas, como artigos de baixa qualidade, métodos questionáveis e revisões conduzidas por profissionais duvidosos, entre outros desafios.

Fake news e pseudociência: são a mesma coisa?

Apesar das pseudociências serem um tipo de fake news elas se diferenciam. Entenda:

  • Fake news são informações errôneas, disseminadas como verdadeiras em diversas áreas. É um termo guarda chuva que também engloba as pseudociências. Ex.: Usamos apenas 10% do nosso cérebro; vacinas causam autismo; a terra é plana; o aquecimento global é uma mentira.
  • Pseudociências: Teorias que se propõe a explicar fenômenos naturais, mas não têm sustentação científica ou métodos válidos. simplificadamente, um conjunto de mitos. Ex.: cura com cristais; tethahealing; constelação familiar; astrologia; homeopatia; neurolinguística.

Principais mitos da neurociência

Teoria do Cérebro Trino

O que ela diz? Que nosso cérebro pode ser dividido em 3 áreas: Cérebro Reptiliano, Mamífero (límbico) e Neocórtex. Ex.: Quando não conseguimos ser racionais é porque nosso cérebro ancestral, reptiliano, assumiu.

Por que é fake? Nosso cérebro não é bem assim. De fato temos áreas que podem ser observadas em diferentes etapas da evolução, mas não é simples assim. A ideia do “cérebro trino” é uma simplificação excessiva da complexidade cerebral. A neurociência moderna revelou que as funções cerebrais são altamente interconectadas e distribuídas em várias áreas. As emoções, por exemplo, envolvem não apenas o sistema límbico, mas também áreas corticais.

Utilizamos apenas 10% do nosso cérebro

O que ela diz? Utilizamos apenas 10% do potencial de nosso cérebro. Se utilizássemos mais conseguiríamos fazer coisas muito mais complexas.

Por que é fake? Usamos todo o nosso cérebro, e diferentes áreas têm funções específicas. Não faria sentido ativar a área responsável pelo controle das pernas enquanto estamos sentados lendo. Não viraríamos um pen drive se 100% dele fosse ativado.

Cérebros masculinos e femininos pensam de maneira diferente

O que ela diz? De acordo com essa teoria, homens e mulheres processam informações de maneira diferente. Um exemplo comum é que as mulheres seriam mais focadas em emoções, enquanto os homens são mais racionais e práticos.

Por que é fake? Pensamento ultrapassado e superficial. Não há evidências científicas de que os cérebros masculino e feminino sejam diferentes. Ao examinar uma imagem cerebral, um neurocirurgião não consegue determinar se o cérebro pertence a um homem ou a uma mulher. A forma que pensamos é determinada por muitos mais fatores do que apenas nosso gênero.

Temos um lado dominante do cérebro que determina nossa personalidade

O que ela diz? Temos um lado dominante em nosso cérebro, que dita se somos mais analíticos e racionais, ou emocionais e criativos.

Por que é fake? Trata-se de uma interpretação errônea das teorias da neurociência, além de ser uma enorme simplificação. A criatividade, por exemplo, é uma habilidade que se baseia muito em nosso interesse e estímulo ambiental. Além do mais, as áreas são tão interconectadas que as informações dificilmente são processadas em apenas um hemisfério.

Programação Neurolinguística (PNL)

O que ela diz? É a crença que podemos reprogramar nosso pensamento através de frases que são capazes que mudar nossas crenças limitantes. É uma ferramenta muito utilizada por coaches.

Por que é fake? De fato, nosso pensamento muda a forma que agimos e nossos resultados. Entretanto, a metodologia e explicação que é dada pela PNL não tem aplicação real. Muitos estudos foram conduzidos para atestar a eficácia dessa intervenção, mas fracassaram. É uma pseudociência e um mito da neurociência, exemplo da distorção dos achados sérios com técnicas não efetivas.

Qual é o problema das pseudociências?

Muitas pessoas têm sua pseudociência de estimação e muitas vezes são inofensivas, certo? Errado.

Pseudociências são perigosas por várias razões:

  • Propagam desinformação.
  • Apresentam riscos para a saúde.
  • Geram desconfiança na ciência, impedindo pessoas de conseguir o tratamento adequado.
  • Exploração financeira baseada na vulnerabilidade emocional e o desejo das pessoas por soluções rápidas e milagrosas.
  • Algumas pseudociências foram usadas para justificar preconceitos e discriminação.
  • Recursos desperdiçados em pesquisas e práticas pseudocientíficas, atrasando o progresso científico.

Combater a disseminação de pseudociências requer educação científica sólida, pensamento crítico e uma abordagem rigorosa na avaliação de alegações que carecem de respaldo científico.

O objetivo deste artigo é ajudar mais gente a encontrar tratamento psicológico de qualidade. Para saber mais, entre em contato e agende sua sessão.

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Amanda Velasco

Psicóloga, pós graduada em Neuropsicologia pelo hospital Israelita Albert Einstein e em psicologia positiva pela PUCRS, entre outros cursos. Área de estudo: funções executiva, TDAH e ativismo pela neurodiversidade.

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