Neurociência do sono: Por que dormimos?

Já se questionou por que dormimos e como isso acontece? Esta é a primeira parte da coleção de artigos sobre sono, exploraremos os detalhes do sono e seu funcionamento.

Durante o sono, nosso corpo se restaura e se recompõe, permitindo a regeneração de tecidos e a recuperação de energia. Além disso, nossa mente utiliza esse período para processar informações, consolidar memórias e promover um funcionamento cognitivo adequado.

O sono desempenha um papel crucial na regulação do sistema imunológico, na manutenção de um equilíbrio hormonal saudável e na restauração do sistema nervoso central. Também influencia nossos padrões de humor, nossa capacidade de concentração e até mesmo nossa criatividade.

Neste texto vamos explorar a sólida base científica que sustenta o estudo do sono, seus distintos estágios, e como funciona nosso relógio biológico, conhecido como ritmo circadiano, que orquestra nossos ciclos de sono e vigília em conjunto com o ciclo de privação do sono.

Entender a função do sono é essencial para compreender como ele impacta diversos aspectos de nossas vidas diárias e como podemos adotar práticas para melhorar a qualidade do nosso descanso. Continue explorando este artigo para aprender mais sobre o sono e como tirar o máximo proveito desse processo vital.

Qual é a função do sono?

Biologicamente falando, o sono desempenha diversas funções vitais para o funcionamento do corpo e da mente. Algumas das principais funções do sono incluem:

  • Restauração Física: Durante o sono, o corpo realiza processos de reparação e recuperação. Isso inclui a reparação de tecidos, a consolidação do sistema imunológico e a liberação de hormônios importantes para o crescimento e a regeneração celular.
  • Consolidação da Memória: O sono desempenha um papel crucial na consolidação da memória e na aprendizagem. Durante o sono, o cérebro processa e organiza informações, melhorando a retenção de conhecimento.
  • Equilíbrio Hormonal: O sono afeta a regulação de hormônios essenciais, como o hormônio do crescimento, a leptina (que controla a sensação de saciedade) e a grelina (que regula o apetite). A falta de sono pode desregular esses hormônios e contribuir para problemas de saúde.
  • Recuperação Mental e Emocional: O sono desempenha um papel vital na saúde mental, ajudando a regular o humor, reduzir o estresse e a ansiedade, e melhorar a saúde emocional. A privação do sono está ligada a transtornos mentais, como depressão e ansiedade.
  • Processamento de Informações: Durante o sono, o cérebro processa e organiza as informações do dia, permitindo uma melhor tomada de decisões, resolução de problemas e criatividade.
  • Conservação de Energia: O sono ajuda a conservar energia, permitindo que o corpo descanse e se prepare para as atividades do dia seguinte.
  • Sonhos e Processamento Emocional: Durante o sono REM (Movimento Rápido dos Olhos), ocorrem os sonhos, que desempenham um papel na resolução de conflitos emocionais e no processamento de experiências.

Portanto, do ponto de vista científico, o sono desempenha uma série de funções cruciais que afetam tanto o corpo quanto a mente, e sua importância para a saúde geral não pode ser subestimada.

Muitas vezes é necessário apoio profissional para lidar com os efeitos crônicos de distúrbios do sono. Saiba como a terapia cognitiva comportamental pode te ajudar.

O ciclo do sono explicado

O ciclo do sono consiste em diferentes estágios, cada um com suas próprias características e funções. É possível classificá-los em dois tipos predominantes: o sono REM (Rapid Eye Movement, ou Movimento Rápido dos Olhos) e o sono não REM.

Sono não REM

O sono não REM se desdobra em três estágios distintos:

N1 (Estágio 1): Este é o estágio inicial e mais leve do sono, no qual ocorre a transição da vigília para o sono. Durante o N1, os músculos começam a relaxar, e nossa respiração e frequência cardíaca adotam ritmos mais regulares. É comum nessa fase experimentarmos a sensação de “sono leve”, durante a qual somos facilmente despertados.

N2 (Estágio 2): No N2, o sono se aprofunda em relação ao N1. As ondas cerebrais diminuem em frequência, mas há períodos de atividade cerebral intercalados. Durante o estágio N2, o corpo se prepara para o sono mais profundo, e a consolidação da memória começa a ocorrer.

N3 (Estágio 3): Também conhecido como sono profundo ou sono de ondas lentas, o N3 representa o estágio mais restaurador do sono. Nesta fase, ocorre a recuperação física mais profunda, envolvendo a reparação de tecidos, a construção de ossos e músculos, a liberação de hormônios de crescimento e o fortalecimento do sistema imunológico. O N3 é fundamental para uma recuperação completa e uma sensação de rejuvenescimento ao acordar.

Sono REM (Rapid Eye Movement)

Além dos estágios do sono não REM, há o sono REM, caracterizado pelo rápido movimento dos olhos, daí seu nome. O sono REM é uma fase intrigante, na qual a atividade cerebral se assemelha à vigília (estar acordado). É durante esta fase que ocorrem a maioria dos sonhos vívidos. Embora a função exata do sono REM ainda seja objeto de investigação contínua, acredita-se que desempenhe um papel crucial na consolidação das emoções, no processamento de informações e na criatividade.

Movimento rápido dos olhos no sono REM

Em síntese, o ciclo do sono é uma coreografia intricada entre esses estágios, cada um deles contribuindo de forma singular para a restauração física, o processamento mental e a saúde emocional.

Ritmo Circadiano: nosso relógio biológico

O ritmo circadiano, também conhecido como relógio biológico, é um sistema interno de regulação temporal presente em praticamente todos os organismos vivos, incluindo seres humanos. Esse ritmo controla uma variedade de processos fisiológicos e comportamentais ao longo de um período aproximado de 24 horas, ajudando a sincronizar essas atividades com as variações do ambiente externo, como a alternância entre o dia e a noite.

O ritmo circadiano é controlado principalmente pelo núcleo supraquiasmático (NSQ), uma região do hipotálamo no cérebro, embora muitos outros órgãos e tecidos do corpo também possuam relógios biológicos secundários. A principal função desse sistema é regular o ciclo sono-vigília, ou seja, determinar quando nos sentimos alertas e quando nos sentimos sonolentos.

Além do ciclo sono-vigília, o ritmo circadiano influencia outros aspectos, como:

  • Temperatura corporal: Ela varia ao longo do dia, sendo mais baixa durante a noite e mais alta durante o dia.
  • Liberação hormonal: Hormônios como o cortisol e a melatonina são regulados pelo ritmo circadiano e afetam nosso nível de energia e disposição.
  • Função cognitiva: A capacidade de atenção, memória e resolução de problemas tende a seguir padrões circadianos.
  • Metabolismo e digestão: A digestão e o metabolismo também são influenciados pelo ritmo circadiano, afetando quando nos sentimos mais famintos e quando nosso corpo processa melhor os alimentos.
  • Resposta imunológica: A atividade do sistema imunológico varia ao longo do dia, o que pode afetar a susceptibilidade a doenças.
  • Comportamento social e humor: Nossos padrões de socialização e humor são influenciados pelo ritmo circadiano, afetando nosso nível de energia e motivação para interagir com outras pessoas.

A disrupção no ritmo circadiano, como ocorre em situações de jet lag, trabalho noturno ou distúrbios do sono, pode ter sérios impactos na saúde física e mental, aumentando o risco de problemas como insônia, transtornos metabólicos, depressão e doenças cardiovasculares.

A química do sono

O sono e a vigília são regulados por uma complexa interação de diversos hormônios e neurotransmissores no corpo. Alguns dos principais hormônios e neurotransmissores que desempenham papéis cruciais na regulação do sono e da vigília incluem:

  • Melatonina: A melatonina é um hormônio produzido pela glândula pineal no cérebro e desempenha um papel fundamental na regulação do ciclo sono-vigília. Sua produção aumenta à noite em resposta à escuridão e diminui durante o dia em resposta à luz. A melatonina ajuda a induzir o sono e a regular o ritmo circadiano.
  • Cortisol: O cortisol, frequentemente chamado de hormônio do estresse, é produzido pelas glândulas suprarrenais. Seus níveis aumentam de manhã para ajudar a despertar e diminuem à noite para promover o sono.
  • Adenosina: A adenosina é uma substância química que se acumula no cérebro ao longo do dia, à medida que as células cerebrais consomem energia. A adenosina tem um efeito sedativo, promovendo a sensação de sono e contribuindo para a indução do sono.
  • Serotonina: A serotonina é um neurotransmissor que regula o humor e desempenha um papel na regulação do sono. A conversão da serotonina em melatonina no cérebro é um dos processos que ajudam a induzir o sono.
  • Dopamina: A dopamina é outro neurotransmissor que influencia a regulação da atenção. Níveis equilibrados de dopamina são importantes para manter o estado de alerta durante o dia e facilitar a transição para o sono durante a noite.
  • Hormônio do crescimento: Durante o sono profundo (sono de ondas lentas), o corpo libera hormônio do crescimento em maiores quantidades. Esse hormônio desempenha um papel importante na reparação de tecidos, no crescimento e na recuperação física.
  • Hormônio tireoidiano: Os hormônios tireoidianos, como o triiodotironina (T3) e a tiroxina (T4), também desempenham um papel na regulação do metabolismo e, consequentemente, na regulação do sono e da vigília.
  • Neurotransmissores: Além dos hormônios e neurotransmissores citados, outros também tem um papel importante, como a acetilcolina, a histamina, a norepinefrina e a orexina também influenciam a regulação do sono e da vigília ao afetar a atividade cerebral e o estado de alerta.

A complexa interação entre esses hormônios e neurotransmissores ajuda a determinar nossos padrões de sono e vigília ao longo do dia.

Se você se interessa pelos detalhes científicos, você poderá saber mais aqui.

Conclusão

A química cerebral pode parecer complexa, mas dormir é tão simples que fazemos todos os dias por várias horas. Aprender sobre nosso sono não é apenas algo curioso, mas quanto mais entendermos sobre nós mesmos melhor poderemos decidir por nós mesmos. Algumas dicas podem melhorar nossa relação com o descanso e otimizar esse momento tão querido.

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Amanda Velasco

Psicóloga, pós graduada em Neuropsicologia pelo hospital Israelita Albert Einstein e em psicologia positiva pela PUCRS, entre outros cursos. Área de estudo: funções executiva, TDAH e ativismo pela neurodiversidade.

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